Poucos cenários políticos foram tão previsíveis quanto este que estamos vivendo no Brasil! Mesmo protagonistas auto identificados como sendo de esquerda, que é o caso de Ciro Gomes, alertaram para o quadro que vivemos no momento.
A questão se coloca de uma maneira clara. Há duas acusações de golpe no Brasil:
uma delas, por ser mais recente, é a de que radicais de direita, ditos extremistas, ou bolsonaristas, não querem aceitar o resultado de uma eleição alegada como justa e inquestionável e, por fazerem isso, são antidemocráticos (!);
a outra, que foi apontada por muitos, inclusive pelos que estão nas ruas, é a de que o golpe já foi dado, desde o momento em que se construiu o caminho para o retorno de uma personagem que foi julgada como criminosa, atestada como culpa – com provas sobradas, segundo os juízes –, mas que, por “problemas técnicos”, teve seu julgamento anulado, permitindo que voltasse para proteger algo que parece claro para muitos: o Deep State, o Estado Paralelo que é dominado por indivíduos que ainda estão na sombra e não se sabe bem quem são (bilionários, especuladores, guerrilheiros, narcotraficantes e/ou demais tipos de organizações...), embora, sob os holofotes, a coordenação esteja sendo executada por indivíduos famosos, acusados de vários crimes de corrupção, dentre eles esse que foi pontado como o escolhido pelas urnas. Executada por um pessoal que usa de discursos ilusórios, mas mostra estar preocupado apenas com seu retorno ao lugar que consideram como propriedade privada sua, as instâncias de poder, visando espoliar a sociedade que lhes sustenta e, em especial, para terem condições de garantir sua proteção contra o povo.
A acusação citada no início é a que vem preenchendo os jornais à esquerda, que, para facilitar e agilizar a propaganda, massificam a informação dizendo que os manifestantes, sejam quem forem, são de extrema direita, ou bolsonaristas, já que é importante forçar que tudo fique sob a mesma identidade. E é importante entender o que eles alegam: que os que estão nas ruas são golpistas pelo fato de ser inquestionável a justiça da eleição, que, alegam, foi operada por instrumentos indubitáveis!
Esta eleição pode ser vista como qualquer coisa, menos como justa! No mínimo, o que já seria suficiente, o processo foi contaminado pela parcialidade dos que deveriam garantir o equilíbrio e a normalidade! Pessoas foram perseguidas, grupos foram ameaçados, cidadãos foram encarcerados e, o mais absurdo de todos os desrespeitos, para não haver dúvidas sobre qualquer medida ou processo, foi impedido o direito ao questionamento, pasmem todos, para garantir a Democracia! Mas, o processo eleitoral é que tem sido visto como a fraude! A urna é a ponta do iceberg!
O Problema do Caos
Deixando isso de lado, para tratar em outro momento, o problema do caos, que está apenas começando, não se assustem com isso, não está nas acusações de golpe, seja por qual lado venha, mas na situação que se criou, em que parte gigantesca do povo viu o problema e quer que luzes sejam colocadas sobre ele, para que seja encerrado o temor e a tensão, para que possam voltar para casa e busquem entender no que erraram, caso isso seja real, e possam pensar em um projeto concorrente e em como apresentá-lo melhor! Mas não é isso que está acontecendo! A verdade está sendo escamoteada por instituições que impedem que ela seja apresentada e, no absurdo, até que ela seja solicitada! O direito de buscar a verdade é uma das condições do regime democrático e a liberdade para tanto é uma das instituições do estado democrático de direito!
O povo está sendo impedido de buscar a verdade (quando foi vetado o direito à sua busca) e impossibilitado de exigir que seus empregados (as autoridades governamentais) apresentem o que vem sendo implorado, algo que ocorre quando proíbem que essas autoridades sejam questionadas! Elas fazem de conta que não entendem que não podem destruir as liberdades para, suposta e cinicamente, defenderem a democracia, pois a democracia se configura exatamente na concretização do controle que o cidadão tem sobre os seus governantes! Entendam isso senhores parlamentares, senhores governadores, prefeitos e presidentes, e, principalmente, senhores juízes e ministros do STF: a democracia se concretiza no exercício de controlar os atos, as ações dos governantes, bem como impedir os abusos e punir os desrespeitos desses, e entendam vocês em desplante de cinismo, que governantes não são apenas os ocupantes do poder executivo, mas são todos os que ocupam os poderes do Estado, no legislativo, no executivo e no judiciário!
Em especial, deve-se controlar os do judiciário, que são os mais difíceis de serem observados e submetidos às exigências de transparência, e, além disso, são os que menos representam o povo, não à toa a ordem de exposição dos poderes do Estado em uma Constituição democrática começa sempre com o Legislativo, já que representa todo o povo e nele está a essência do desejo democrático, vindo depois o Executivo, que é escolhido por parte do povo, representando aqueles que o escolheram, mas tendo o dever de governar observando a vontade geral e não apenas a vontade daqueles que lhe escolheu; e, por último, o Judiciário, que não é escolhido diretamente pelo povo e, por isso, não lhe representa, sendo apenas um conjunto de funcionários que deveria ter mais humildade, uma vez que não pode nunca dizer que está ocupando este cargo porque os cidadãos diretamente assim o quiseram!
Nada mais que isso, e é por essa razão que tanta gente está indignada! Por isso o caos começou a se instalar e tenderá a crescer, mesmo que haja uma aceitação incompreensível de pessoas que não poderiam ficar inertes! Este caos era previsível desde que se admitiu que toda a sociedade fosse desrespeitada! O desrespeito começou quando houve um pacto silencioso entre molestadores e covardes!
Exemplificar a situação
O melhor quadro para exemplificar isso pode ser a comparação de um abusador diante de uma mulher! Quando ele dá o primeiro tapa ou soco, ela não pode aceitar e achar que tudo ficará naquele ato! Ele, como todo abusador, interpretará isso como uma licença para continuar a agressão! Esse abuso contra nós começou quando, no impeachment de Dilma Rousseff, o então presidente do STF, presidindo o Ato, rasgou a Constituição com um pacto espúrio diante da assistência de covardes, que ainda buscaram explicações técnicas para aquela agressão e, ao permitirem tal situação, deram ao abusador a garantia de que poderia ir avançando até chegar ao ato supremo de estuprar toda a sociedade brasileira, bastaria, para tanto, que o lugar fosse oferecido a alguém com coragem suficiente para apostar num jogo de avanços sucessivos, até descobrir que ninguém teria coragem de pará-lo. E assim se deu, rasgando cada página da Constituição, ao ponto de chegar a condição de que, parafraseando a afirmação jocosa de que “la garantia soy jo”, quase declarar “la Constitución soy jo” e aceite isso, “seu mané”!
Os que estão nas ruas estão apenas com medo, pedindo que alguém lhes proteja. Mas, como se testemunhou a inação daqueles covardes que presenciaram o primeiro tapa dado na esplêndida mulher que é a sociedade brasileira, ocorrido naquele momento do impeachment, para a tristeza dos brasileiros não será surpresa que se testemunhe novamente a inação, se ficar claro que se está presenciando a resplandecência de outros covardes, algo em que não se acredita que esteja ocorrendo neste momento de caos que era previsível, no qual a sociedade brasileira está sendo violentada, uma vez que os abusadores viram que podem ir adiante, pois é possível que ninguém tenha bravura para pará-los!
Naquele momento inicial, juntos com os covardes, havia gente de mau caráter! Neste momento, eles, os abusadores, acreditam que só há covardes, num ato de perfeição da covardia, independentemente das cores de seus trajes e de um possível falso brilho de suas medalhas! Algo me diz que eles se arrependerão de terem confundido a gentileza, a dignidade e a paciência com fraqueza e covardia, e duvidado tanto da força de mulheres e de homens de honra!